“A Bíblia diz: ‘a árvore que não dá fruto, corta. Estas palmeiras nem sombra dão” –
Elizete Alves da Silva, moradora da José Silveira há 20 anos
Se esta rua, se esta rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava arrancar
As palmeiras, as palmeiras que têm nela
Para meu telhado, meu telhado não quebrar.
Este plágio da cantiga popular de Danni Carlos, é a representação da fala dos moradores da Avenida dos Combonianos e José Silveira, no centro de Montanha, na audiência pública realizada, ontem (17), pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente que fez ecoar um grito de socorro da população das duas avenidas.
O público ali presente foi muito representativo. Moradores de mais de 60 anos e moradores mais recentes. Todas as classes estiveram ali representadas. Os relatos, às vezes acompanhados de voz cortada e lágrimas a escorrer pela face, denunciavam desespero. O desespero de quem já não tem a quem recorrer, e vive, há anos, o drama do medo e do pavor de reviver situações de perigo de, em momentos de tempestade, ver sua casa ser invadida pela chuva a inundá-la e não buscar um cantinho mais seguro para proteger a si e aos seus de serem acidentados pelas folhas que caem. Relatos de famílias, que por não ter mais esperanças na resolução do problema, estão a colocar suas casas à venda, para não reviver estas situações.
Em seus relatos, os moradores registraram prejuízos que ultrapassam os financeiros e, 100% pediram a supressão das Palmeiras.
Marineide Cortes dos Santos, moradora da avenida dos Combonianos disse, entre soluços e lágrimas: “Se as Palmeiras não forem retiradas, mudarei de rua”. E, relatou a situação que viveu no Natal de 2018, quando sua casa foi atingida, dia 24 de dezembro, por cinco folhas de palmeiras e atingiram toda sua casa. “Perdi o telhado, o forro, e com a água que invadiu a casa perdi móveis. Ano passado, a cena se repetiu. É desesperador. Não conseguem imaginar o trauma que vivo”, disse.
Elizete Alves da Silva, moradora da José Silveira há 20 anos, uma senhora que vive em condição de pobreza afirmou: “O maior sofrimento da gente aqui são as Palmeiras. Já tive problemas com a energia por três vezes. Procurei a Prefeitura, que nada resolveu. Gastei muito. Me afetou até o psicológico”. E, fez um apelo: “Vocês como autoridade, olhem por nós!”. E continuou: “As crianças não podem brincar na rua. São muitos anos a gente pedindo. Já não há mais esperança. Mas vocês, que são autoridade, sabem dos prejuízos e dos perigos que corremos”. E, fez uma citação bíblica para reforçar o pedido de socorro: “A Bíblia diz: ‘a árvore que não dá fruto, corta. Estas palmeiras nem sobra dão”.
Outra moradora da avenida dos Combonianos, Lane Schitine afirmou que os prejuízos são imensos, mas que a situação de convivência com as Palmeiras causa pânico aos moradores. E, relatou prejuízos com a perda de móveis, eletrônicos etc. Lane Schitine relatou que constantemente tem que reformar o telhado de sua casa, sempre com goteiras e relatou: “Para tentar corrigir o problema, retiramos todo o telhado e o refizemos. A reforma foi encerrada numa quarta-feira, na quinta caiu uma folha, e o telhado de um dos quartos desabou. O problema é constante”, disse.
Situação dramática viveu também João Paulo Rodrigues, que ao passear, com a família pela avenida, teve seu veículo atingido por uma folha: “Sou uma das vítimas das palmeiras. Vivi o risco de ver meu filho, um bebê, minha esposa e eu sofrermos um acidente maior. Os danos causados no veículo foram de R$ 2.800, 00”, disse.
Além de danos materiais e psicológicos, foram relatados também problemas de saúde. Roque Davi Pancieri apelou: “Meu objetivo aqui, é pedir, pelo amor de Deus, retire estas palmeiras.” Roque relatou, assim como outros moradores, que o pólen das palmeiras agrava a situação de sua esposa e de outros moradores que sofrem com alergia, e que mesmo com portas e janelas fechadas não conseguem impedir a entrada do pólen em casa.
O relato dos moradores sobre os prejuízos causados pelas folhas que caem está explicado pela estrutura destas plantas, que atingem de 15 a 25 metros de altura e suas folhas têm 5 metros de comprimento.
O secretário Municipal de Meio Ambiente, Celso Bussu, buscou tranquilizar os presentes afirmando que a administração municipal, na gestão André Sampaio, coloca-se em escuta da população, que é quem de fato está com a decisão, para que juntos, trabalhem um plano de arborização para a cidade, para resolver, de uma vez, os problemas que a população vem enfrentando.
Celso Bussu buscou tranquilizar os moradores afirmando que o problema será resolvido: “O prefeito André Sampaio já afirmou que o destino das palmeiras está nas mãos dos moradores. Temos o apoio da Câmara Municipal, como podem constatar pela presença aqui do presidente da Câmara, vereador Allan Cortes, e dos demais vereadores: Clebão, Edivaldin e Zenildo. Com estes apoios, afirmo a vocês, que a decisão hoje aqui tomada, será respeitada e acatada”. E, colocou em votação o destino das palmeiras.
Poucas vezes se viu uma comunidade interagir tão intensamente. A retirada das palmeiras foi defendida por 100% dos presentes.
Mas, a audiência deu lugar a outra discussão, a poda das árvores da cidade. A reclamação foi geral.
Para a atual situação da poda das árvores, Celso Bussu afirmou: “O prefeito André Sampaio determinou a nós o prazo de 6 meses para resolver o problema das podas”. Informou também que já está sendo providenciado um inventário das árvores da sede, do distrito de Vinhático e da Vila de São Sebastião, para a elaboração do Plano de Arborização Urbana com a catalogação de todas as espécies. O resultado deste inventário servirá para o planejamento da poda. Tudo isto, reforçou o secretário, “no prazo de 6 meses, dado pelo prefeito”.
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