O filme “Familiar Face” mostra duas questões polêmicas da vida pós-moderna: a situação dos refugiados e a homoafetividade.

Evany Lira
Apesar da polêmica que os temas despertam, Ramon Luz apresentou a dura e triste realidade vivida pelo personagem Habibti, refugiado sírio e homossexual, que fugiu da Síria para ser salvo da guerra; com uma suavidade que transformou a realidade chocante em cenas que possibilitam ao telespectador criar uma relação com a história de vida dos personagens, e trazê-las para sua cotidianidade fazendo uma relação que vai além da homoafetividade e do sentimento de não pertencer ao lugar que habita. Habibti viveu o duplo preconceito imposto pela comunidade europeia, mesmo estando na Alemanha, um país que estendeu a mão aos refugiados.
Ramon Luz trouxe à tona, calçado por estes dois temas, o debate sobre o tema “humanidade”. O reconhecimento do outro enquanto outro, diferente de mim, mas igual a mim em sua humanidade. O diretor de “Familiar Face” nos dá lições de humanidade com a história de Markus, um alemão que busca compreender como viver um processo de troca com os novos moradores (refugiados) em seu país. Acolhe Habibti, com suas diferenças e aprende com elas. Mais que isto, Markus e Habibti se completam como ser humano, crescem com a troca de saberes e experiências, e constroem uma relação familiar de ajuda mútua e compartilhamento.
Roda de conversa
A sensibilidade com que Ramon Luz apresentou o enredo emocionou os presentes, que após a exibição do documentário, permaneceram no teatro para uma roda de conversa.
O diretor de “Familiar Face” disse ter se sentido lisonjeado pela participação dos montanhenses, em plena segunda-feira. Disse que a exibição foi pouco planejada em razão de sua viagem ter sido liberada de última hora, mas, que mesmo assim, contou com a ajuda valiosa de sua colega de infância Izabela Cardoso, que foi fundamental para a mobilização, e que sem ela não teria acontecido.
Ramon Luz disse que sua felicidade maior foi ver o teatro lotado pelos alunos das escolas tanto da rede municipal quanto da rede estadual. E mais feliz ainda pela participação dos estudantes na Roda de conversa após a exibição do filme, pois foi surpreendido com uma participação efetiva, inteligente e desafiadora. “Os estudantes levantaram questões fundamentais, abordadas subliminarmente. Eles leram estas entrelinhas e me questionaram”, disse. Ramon Luz disse ainda que foi pelo enriquecimento que estes debatem trazem, é que ele, além de produtor, fez-se guardião do documentário.
Para Ramon Luz, poder falar sobre imigração e homossexualidade fazendo um diálogo com a arte, facilita o debate. “Estas questões, muitas vezes são tão pedregulhosas, difíceis e áridas, que a gente evita abordá-las. Mas a arte nos possibilita esta abordagem, e nos possibilitou este diálogo em Montanha.
Ramon Luz disse que seu principal objetivo ao abordar estes dois temas tão polêmicos é trazer a oportunidade de se discutir o respeito e a aceitação das diferenças. “a importância não está apenas na aceitação, mas também no respeito ao outro, tão humano quanto eu, aquele que pensa, que sente e que vive diferente de mim”, diz Ramon, confessando ser esta a maior mensagem que o “Familiar Face” quer passar.
Ramon Luz disse que as rodas de conversa em Montanha fortaleceram um conceito que já é seu, que “não é por viver em cidades do interior que a intelectualidade está aquém. Que ele encontrou aqui um debate muito qualificado e que muito contribuirá com sua trajetória, tanto na arte, quanto na vida.
O Futuro
Ramon Luz diz que continuará produzindo filmes, mas que quer se preparar para atuar também em outras áreas. Estudante de Geopolítica e História na Universidade Livre de Berlin diz que busca construir seu espaço na terra que é o lar da terceira maior população de migrantes internacionais em todo o mundo.
“Familiar Face” será exibido em cinemas no Espírito Santo, e principalmente em espaços acadêmicos universitários. Dia 28 de novembro será exibido no Cine Metrópoles – UFES, às 19 horas, com entrada franca. E, em 02 de dezembro será exibido em Linhares no Cine Ritz Conceição. Muitas outras datas aguardam confirmação na agenda para exibição no Espírito Santo, antes de ser exibido em São Paulo.
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