Todo mundo já ouviu falar, pelo menos alguma vez na vida, sobre a cidade de Chernobyl, localizada na Ucrânia. Aquela que, em 1986, sofreu o maior acidente radioativo da história. À época, devido a falhas técnico-humanas no reator nº 4 de sua Usina Nuclear, uma explosão de 1.000 metros de altitude liberou pelos ares 192 toneladas de grafite e plutônio contaminados.
A nuvem negra de toxicidade gerada rapidamente se espalhou. Para se ter uma ideia, pelo menos 100 mil km² de raio em torno do epicentro da erupção foram atingidos, gerando cerca de 15 mil óbitos, segundo informações do extinto governo soviético. Além disso, ainda hoje, 34 anos mais tarde, 2,4 milhões de ucranianos sofrem com problemas salutares, como o câncer.
E o que tudo isso tem a ver com as areias do Espírito Santo? Hecatombes de outrora à parte, basta olharmos a quantidade de jovens que insistem em se aglomerar nas praias do estado. Enamorados pela famosa “altinha”, prática esportiva que adapta os fundamentos do futevôlei a uma roda de amigos, o objetivo é claro: entre uma cabeçada e outra, a bola não pode cair.
E nem deve, certo? Em meio à pandemia do novo coronavírus, doença infecciosa que já ceifou mais de 180 mil brasileiros, a bola, simbolicamente, segundo “O Livro dos Símbolos: Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas”, da autora Kathleen Martin, representa a nossa existência. Alicerce este que é, literalmente, jogado de um lado para o outro a pontapés de displicência.
As desculpas para tal radioatividade social a céu aberto são muitas: “Ah, mãe, todo mundo está indo à praia”, “não aguento mais ficar preso dentro de casa” ou “já tenho idade suficiente para arcar com as minhas decisões”, argumentam, entorpecentemente, os Chernoteens, nome que atribuí aos adolescentes que parecem ser um verdadeiro cancro à saúde pública capixaba.
São eles que desdenham do distanciamento comunitário definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), vilipendiam das leis implantadas pelos governantes estaduais, passam por cima do mandamento paterno que existe dentro de casa e, muito pior, negligenciam a consciência interna que está ali, aos berros, dizendo: “cuidado, a bomba está para estourar”.
Só nos resta escolher no colo de quem. Será que dá para culpar apenas os semiadultos cujo cérebro só completará o seu desenvolvimento biológico após os 20 anos de idade? Ou dá para confiar plenamente na instabilidade química encefálico-pubescente, recheada de testosterona, no caso dos rapazes, e estrogênio e progesterona, como acontece na fisiologia feminina?
Para a psicanálise, ciência que estuda os fenômenos inconscientes da mente, os filhos são o sintoma de seus pais. Logo, não estaria intrínseco a uma estrutura familiar “xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente”, utilizando-se das palavras de uma famosa jornalista da televisão brasileira, o cerne da venenosa falta de limite que permeia tal geração?
Independentemente de qual lado desta fissura magnética você prefira estar, ela nos mostra, com doses de funesta acidez, a nossa falta de compostura e cuidado, tanto com o outro quanto em relação a nós mesmos. Afinal, se estamos tão saturados desta época de virulência a mil, o que será que ainda falta acontecer para que tomemos o mesmo destino de Chernobyl?
*Renan Cola é especialista em Neuromarketing e Psicanalista da É Freud, Viu?
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