Nova Venécia/ES – O Hospital São Marcos, em Nova Venécia, está com 100% dos seus leitos ocupados. A informação foi confirmada pelo diretor da unidade, Alessandro Prado Aguilera, e pelo enfermeiro, Ulysses Maria Pereira Silva, durante coletiva de imprensa com a participação do prefeito, André Fagundes, do vice, Paulo Roberto, e do secretário de Saúde, Juliano Bettim Motta.
“Nós estamos vivendo uma outra doença neste momento. Estamos recebendo pacientes graves no Hospital, com uma média de 25 internações por Covid-19 dentro da unidade neste momento, sendo que dois estão com comprometimento pulmonar grave, fazendo uso de oxigênio contínuo”, disse Alessandro.
Segundo o diretor do Hospital, no momento, está sendo realizada uma mudança interna, com o deslocamento do setor administrativo para abrir mais espaço para se trabalhar. “Tudo isso é considerando o aumento da ocupação de pacientes clínicos graves que não param de chegar, os acidentes também não deixaram de acontecer, pacientes com infarto continuam chegando, pacientes com AVC seguem chegando, criança com picada de escorpião segue chegando. Não é por conta da Covid-19 que as demais doenças graves estão deixando de chegar. Dentro disso, estamos adequando essa sistemática por conta do agravamento da doença. Todas as medidas que estavam ao nosso alcance com relação à mudança de estrutura ou à adequação para atendimento da população local e microrregional, estamos fazendo e, ainda assim, estamos vendo que estamos preparando nossa equipe internamente para uma piora no cenário”, falou.
“A doença não tem mais idade. É um novo cenário e nós estamos muito preocupados com o que temos visto no Hospital, recentemente. As pessoas estão chegando em estado grave e não há tempo, muitas vezes, de fazer muita coisa a não ser intubá-las. Não tem como mais ser contra ou a favor de lockdown neste momento. Agora, é cada um cuidar de si, cuidar da vida, preservar a vida, porque não consigo enxergar mais, como diretor do Hospital São Marcos, uma outra alternativa, se não, tomar medidas restritivas para tentar diminuir o fluxo de pessoas nas ruas para conseguirmos, aí sim, tentar reduzir a proliferação do vírus”, disse o diretor.
De acordo com Alessandro, todos os funcionários do hospital estão exaustos. “Nossa equipe está se dedicando ao máximo e eu gostaria de enaltecer o que ela tem feito lá dentro. Já perdemos colaboradores. A gravidade da Covid-19 está aqui. Não está na televisão, não está longe de nós. Cuidem e se cuidem”, concluiu.
Novos leitos
Alessandro confirmou que está havendo uma ampliação de 10 a 15 leitos no Hospital São Marcos neste momento. “Vai depender da logística que vamos conseguir construir dentro do Hospital com a retirada de boa parte ocupada pelo setor administrativo. A pretensão é, pelo menos, de 10 a 15 leitos de ampliação, porém, só isso não garante os demais problemas, como a falta de medicamentos para os pacientes, que estamos tendo muita dificuldade de encontrar no mercado. Precisamos da conscientização de cada um para diminuir esse fluxo de pessoas transitando para ver se conseguimos reduzir o número de infectados”.
Nova variante
Durante a coletiva, o enfermeiro do Hospital São Marcos, Ulysses Maria Pereira Silva, confirmou que há pacientes internados na unidade com a variante B.1.1.7, do Reino Unido. “É uma variante bem mais letal e com um poder de contaminação ainda maior. Aquele paciente que a gente intubava no 9º, 10º, 11º dia, está sendo intubado no 3º, 4º dia agora. Não tem mais idade e nem comorbidade”, disse.
Entre as diversas intubações realizada já nesta semana no Hospital São Marcos, com uma média de quatro a cinco por dia, estavam dois pacientes, sendo um de 27 e outro de 35 anos, o que chamou a atenção de Ulysses. “No momento do trabalho, ele virou para toda equipe e pediu: ‘Antes de me intubar, porque eu não sei se vou voltar, só queria te pedir para ver minha esposa e meu filho, antes’. Naquele momento, a equipe intuba o paciente chorando, sem tempo de ir ao banheiro ou a outro lugar, porque ainda tinha mais dois para o mesmo processo”, contou, emocionado.
Segundo o enfermeiro, o Hospital São Marcos tem 62 leitos e neste momento, não há nenhum disponível para Covid-19 ou internação clínica. Há, somente, leitos livres para pacientes gestantes.
Outra dificuldade relatada por Ulysses é quanto ao abastecimento de oxigênio. De acordo com ele, antes esse trabalho era feito pela empresa responsável uma vez por semana e, ainda assim, toda capacidade não era utilizada. Agora, ela está vindo de dois em dois dias. “Dos 21 pacientes internados hoje, 90% está fazendo uso de oxigênio. No domingo, estamos em reunião no Hospital e o próprio prefeito presenciou a empresa fazendo o abastecimento em um domingo, porque o oxigênio iria acabar às 22 horas”.
Novo centro de atendimento
O Hospital São Marcos também será, agora, um novo centro de atendimento a pacientes com Covid-19. A proposta foi aprovada na última semana, durante reunião do Conselho Municipal de Saúde e visa aumentar o leque de ofertas da unidade para deixar a população veneciana assistida. “A UPA não está dando conta. Tive a oportunidade de conversar com o responsável e ele retratou que estão atendendo 200 pessoas por dia. É um cenário de guerra e nós temos que estar prontos e preparados. Eu peço que a população fique em casa, se conscientize em relação a evitar festinhas, churrascos e aglomerações familiares. Colaborem com a gente, porque, se não, vai chegar um momento em que não teremos escolha. Vai faltar leito, vai faltar oxigênio e vai faltar profissionais, porque estamos adoecendo psicologicamente e fisicamente”, finalizou.
Texto: Jhon Martins / Jornal A Notícia
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